domingo, 22 de abril de 2018

vida nova - uma vida incomum como qualquer um 47








vida nova


Tanta coisa acumulada. Há catorze anos, tudo meio misturado, botei em caixas de papelão. Há sete, reorganizei, caixas de plástico, numeradas, setenta e tantas. Ufa!

Nada que realmente me faça falta. Estes objetos me têm. Volta e meia, tenho que arrumá-los, espaná-los, cuidar, traças e cupins. Mas não consigo, simplesmente, jogar fora. São memórias de minha vida. Ai!

Em 48 caixas, memória audiovisual. São gravações, originais ou editadas, realizadas entre 40 anos atrás e hoje. Fitas, hds, dvds, pendrives, cabos, equipamentos... Bem, estas caixas, devo manter perto de mim. Representam, um tanto, o que senti, o que vivi. Ai, ai.

Pensei em enterrá-las, dentro de um contêiner, em algum lugar sonhado. Meus biógrafos encontrarão, ali, registros de momentos de um homem comum, como qualquer um. Não vou enterrá-las.

Em outras quase tantas caixas, de tudo um pouco. Cadernetas com textos originais que geraram meus livros, roteiros de alguns vídeos, jornais dos anos 70 e 80, fotos, desenhos, bibelôs, panelas herdadas, contas pagas, exames médicos, impostos pagos, ferramentas, ferragens...

E olha que o jardim, pequeno, vivo, bonito, me pede um tempo diário, pouquinho, pra molhá-lo e só. Um, hoje amigo, amante das plantas vem, de duas em duas semanas, delas cuidar.

Bom, me oriento por um desejo. Quero me sentir leve, “sem lenço nem documento, nada no bolso e nas mãos”. Consegui um pequeno espaço pra algumas caixas. Trabalheira, agora, mudança.

Meus livros psi, especialmente os escritos por Wilhelm Reich, doei pra uma escola de psicoterapeutas. Outros livros, variados em qualidade e quantidade, ainda não encontraram destinos. Falta, agora, encontrar usuários e cuidadores do material audiovisual. Um amigo já me lembrava: os planos funcionam. Difícil é o cronograma.


Sei que, logologo, já serão outros os problemas que escolherei focar.


Pesquisador de mim mesmo, há muito presto mais atenção às causas dos sintomas que por desventura sinta. Procuro, mais, cuidar das causas dos sintomas que eliminá-los. Percebo sintomas como avisos. Não elimino os avisos. Tento cuidar das causas dos meus distúrbios, eventuais doenças.

Um dos cuidados, alimentação. Outro, movimentação, caminhadas. E respiração. Alimento, movimento, respiração. Este o tripé básico da minha atual vida saudável.

Lembro de um psiquiatra meu conhecido: se eu considerar o ser humano como somente biofísico, operação ou medicamento são as opções para tentar resolver qualquer distúrbio. Mas se considero o Homem como também emocional, espiritual, social... amplio minha visão e possibilidades de reequilíbrio. Sei, agora, que se cuido do emocional, meu corpo agradece. Se cuido do espiritual, eu todo agradeço. Se cuido do social, agradecemos juntos.

Lembro o dito popular, “quando a boca cala, o corpo fala, adoece. Quando a boca fala, o corpo cala, cura”.

Meus pais se foram, agora me sinto pai e mãe de mim mesmo. Se eu não me cuidar, quem me cuidará? Inda mais, sinto e percebo, cuidadores que não se cuidam adoecem como os que estão sendo cuidados. Não me esqueço: primeiro, cuido de mim. Só assim poderei cuidar de outros.

Estas arrumações todas – caixas, agendas, escolhas... – já são, em si, práticas de uma nova vida. Esta vida que desejo, em movimento, atento ao momento e às escolhas que determinam o que viverei. Em cada escolha, me sinto rei de mim mesmo.

Ah! Que bom! Posso, como qualquer um, escolher um tanto o que sinto e vivo. Inda mais, descubro, quando o Deus que venero e abraço se alegra com minhas alegrias.



Luiz Fernando Sarmento











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