atos
fractais
Um pedaço representa o todo? Pequenos atos têm
me dado informações sobre quem os pratica. Quem joga na rua o lixo que tem na
mão me informa que não cuida dos outros. E talvez não cuide dos outros porque
não aprendeu cuidar de si. Imagino: se não cuida de si, como cuidará de outros?
Mas, como diz Barreto, o Adalberto de Paula, só
reconheço no outro o que conheço – tenho? – em mim. Pelo que
percebo, outros pequenos atos me denunciam. Se jogo lixo no chão, se falo
grosso, se furo fila, se bato em criança, se desperdiço água, se critico
alegria, se rio das pegadinhas, da desgraça do outro...
Parece óbvio,
mas só há pouco tempo constatei que meu humor
tem sido meu melhor indicador: se estou de bom humor, estou bem.
Agora sei que só consigo comunicar-me com
quem me escuta. E vice versa. A comunicação se dá quando entendo o que me foi
dito. E sou entendido.
Eu me sinto bem com cada ato que realizo para
difundir o que sinto me faz bem. Ouvi e concordo: minha saúde é coisa muito
séria para ficar nas mãos de outros. Se não cuido de mim, quem cuidará? A
autonomia que me permito, desejo a cada um que a deseje.
O sítio de mamãe chamava sossego. Era seu
desejo. Sem saber disso, meu terapeuta Romel sintetizava em cumprimento: saúde,
sucesso, sossego.
Há espectadores que acreditam mais na TV que na
realidade?
Em mim, é lento o processo de absorção de uma
nova ideia, de mudança de comportamento. Há 7 anos desejo um sofá. Há 35 quero
escrever um livro. Há 50 sonho ser dono do meu próprio nariz.
O que é novo me incomoda, me ameaça. Já desenhei
o sofá, tento pela enésima vez escrever um livro, mas inda confundo meu nariz
com o de outros.
Com defesas ativas como as minhas – que
atrapalham a realização dos meus desejos originais – imagino quantas inovações,
descobertas filosóficas, tecnológicas, insights, invenções, criações...
estão disponíveis para a humanidade e não nos chegam ao conhecimento.
Percebo
que boa parte dos custos de empresas e
empreendimentos é gerada pelos controles. Controlar dá trabalho, dá despesas.
Por outro lado, a necessidade de controles diminui quando confianças mútuas
estão presentes. Nas relações pessoais, familiares isto é nítido.
Tenho certo que necessidades de controle
diminuem, se cultivadas relações de confiança. O medo gera controles. O amor
gera confiança.
Percebo em minha prática individual que
quando remunero satisfeito – financeira e emocionalmente – serviços que me são
prestados, recebo de volta empenho espontâneo, com envolvimento e boa vontade.
Quando cuido do outro, o outro cuida de mim, naturalmente.
Admiro a inteligência dos empresários que
repartem lucros com quem com eles trabalha. É natural que cada trabalhador
reconhecido se sinta reconhecido. E, tanto como se fosse seu, passa a melhor
cuidar de tudo ligado ao trabalho: seja de equipamentos e insumos, seja de
relações humanas com o público, colegas, demais stakeholders.
Administrador, gerente que cuida de quem
trabalha próximo dorme tranquilo, vive melhor, tem assunto com os filhos. Não
precisa esconder dos filhos malfeitos para os quais colabore. Feitores –
antigamente? – tinham esta função: obrigar ao outro fazer o que não quer.
Administrador que age amorosamente tem retorno amoroso. Parece complicado, mas
é simples. É o tal do amor. O tao do amor?
Luiz Fernando Sarmento
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