quarta-feira, 21 de junho de 2017

Tudo mutável - uma vida incomum como qualquer um 45

   



 uma vida incomum como qualquer um 45

Tudo mutável

1
Cheguei em Brasília em 1965. Lembro – a memória pode ser falha – duzentos e tantos professores foram mandados embora da Universidade de Brasília. Uma greve longa já no primeiro ano de faculdade. Morei em casa pública ocupada por nós estudantes.

Um mundo novo, esta cidade nova, com gente de todos os lugares. Uma vida juvenil, agitada. Zona boêmia só fora do Distrito Federal, era a lei. Um passo além da fronteira, uma pequena vila com prostitutas. Na minha solidão, uma garrafa de Martini debaixo do braço, em finais de semana, numa aventura, pé na estrada, pegava caronas. Lá quase implorava pelos favores gratuitos de quem vendia o prazer. Quando acolhido, um paraíso neste oásis de solidão.

Joguei o que não tinha, perdia minhas mesadas mensalmente no carteado. Só trinta anos passados vim saber que talvez houvesse roubo no jogo. Parei quando, pra pagar o que perdi e não tinha, comprei à prestação um jogo de pneus pro carro de quem ganhou. Em casa chegamos a fazer o jogo da garrafa. Em roda, uma garrafa era girada no centro. Quando parava, a boca apontava quem deveria tirar uma peça de roupa.

Uma fome danada, uma vez comemos de nos fartar numa pizzaria almejada. Sobrou pra mim correr por último. Sorte que estava com botas. Garçons atrás, me enfiei no mato. Brasília tinha mato.

Uma boa moça – Batalhão foi o apelido agregado ao nome – nos acolhia em seus braços com carinho. Num mato, um amigo se alegrou com seus gemidos. Findo o amor, era um espinho o motivo dos ais.

Que bom antes da aula, cedinho, ter dinheiro pra comer 7 pães com manteiga com café-com-leite. Que chato, ao voltar pra casa – já morando em alojamento no campus – ser obrigado a marchar feito barata tonta. Eram os soldados se divertindo.

A UnB toda rodeada por militares armados, um a cada poucos metros, em todo o seu perímetro. Fui preso uma vez, junto com duas dezenas de colegas, como represália pela retenção – sequestro, aprisionamento? – de um policial por estudantes ativos. Foi um dia só. Na prisão, quem pedia pra fazer necessidades voltada apanhado. Morri de medo. Só passei a ver militares com outros olhos quando, em Moçambique, vi soldados conversando naturalmente de mãos dadas com civis.

2
Dr Fritz colocava critério: esta história que você vai me contar sobre o Pedro, faz bem a mim? E a Pedro? E a você? Se não faz bem, não me conte.

3
Dou razão a Cacilda Becker: só tenho tempo para lutar a favor.

4
E esta vontade de acordar sem ter agenda, a vida atenta como um laissez-faire?

5
O que são erros pra um, talvez acertos pra outro?

6
Quando minha autoestima está presente, lembro a sorte de quem me tem.

7
Dentro do fogo, só vejo chama. Se saio fora, vejo o incêndio. Se apago o fogo, sobram cinzas, embaixo brasas. Se sopra outro vento, voltam as chamas. Se aprendo, já não me queimo.

8
Palestra boa é aquela que vira conversa e podemos todos participar. Uma fala de 10 minutos já é suficiente para apresentar conteúdos, ideias. E o tempo que nos resta aproveitamos bem, conversamos sobre o que realmente nos interessa, a cada um dos presentes. Tudo mutável, inclusive regras, como é a vida.


Luiz Fernando Sarmento



















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