uma vida
incomum como qualquer um 46
Que
sociedade desejo?
1
Somos todos inteligentes. Uns têm facilidade
com matemática, outros com línguas, uns são generalistas, outros cientistas.
Alguns têm inteligência concreta, outros abstrata. Uns são inteligentes nas
emoções, outros são duros, duros. Inteligência mesmo, sinto, exercito quando
utilizo minha inteligência para facilitar o estar contente.
2
Uma fala, já sei, pode ser fora de ordem.
Cada um edita, coloca em sua própria ordem, de acordo com suas prioridades
conscientes... ou não.
3
E se em encontros cada um se apresentasse, eu
também, expressando o que é - ou sente que é -,não o que faz? Esta aprendi com
Michel.
4
Sonhos, ideias, reflexões antecedem ações.
Caos antecede ordenação. O emocional como pano de fundo. Atos falhos não
falham. Insights abrem outras janelas.
5
Reflexões. Dou o livro que gosto, não o que o
outro deseja. Só dá quem tem. Se não me permito, a outros inibo.
6
Pra facilitar minha prática, não me canso de
lembrar o dito que penso ser de Tom Jobim: democracia é muito bom. Lá em
casa pratico todo dia.
7
Que sociedade desejo? Quando converso sobre isto
com quem intenciono ser parceiro, fico impressionado como somos diferentes.
Foco no que somos e no que desejamos em comum.
8
Do que entendi, eficiência se refere a quando
faço bem o que me proponho. Eficácia é quando há resultados. Efetividade é
quando os resultados permanecem, frutificam.
9
Facilita uma parceria, quando descobrimos
interesses comuns. A imagem que vem: sabe o símbolo olímpico, composto por
aquelas argolas entrelaçadas? Imagine que parte de uma argola – que me
representa – superpõe parte de outra argola, que representa você. Esta área que
é comum às duas argolas representa o que temos em comum. Já a parceria
acontecerá em função da iniciativa de cada um de nós e do nosso consenso.
10
Cada um de nós tem algo a oferecer e procura
por algo. Há pessoas que oferecem o que outros procuram e vice versa. Questão
agora de se encontrarem. Assim se formam casais, comunidades, sociedades,
redes.
11
Quando chego na hora ao encontro, estou
dizendo: eu te respeito, eu me respeito. Quando chego atrasado,
desconfio de mim: será que me sinto superior ao outro? E, se sim, que
complexo de inferioridade escondo neste aparente sentimento de superioridade?
12
Quando falo e não escuto, é que não quero
ouvir? Neste momento, estou fechado em mim? Não me interessa o outro?
13
Em algum momento, quando eu ainda no Sesc, escrevi
como lembrança: Nestes momentos de incertezas, desconfio que a necessidade que
sinto de ser solidário é a contrapartida que ofereço por necessitar de solidariedade.
Tudo isto relacionado ao medo de deixar o Sesc, onde, identificado com sua missão,
ganho para trabalhar em benefício de menos favorecidos.
Quem não conhece o que faço, não valoriza o que
faço, não me reconhece. E vice versa, uma vez que também eu não conheço o que
fazem os que se propõem pautar minha vida e as vidas dos que aqui trabalham.
Nesta crise, opto por me orientar pelo meu senso ético e pela missão original
da instituição. Procuro prestar serviços em favor do público que, direta ou indiretamente,
me remunera para dele cuidar.
Dói entrar no espaço do Sesc-Senac Flamengo e
ver um evento caro, sobre Coco Chanel, sendo preparado para um público
limitado.
Como a do Senac, a missão original do Sesc se
dissolve. E o foco já não é o seu público, os comerciários e seus dependentes.
Freio o impulso de demitir-me quando faço as contas mensais da sobrevivência.
Decido então continuar aplicando meu tempo de trabalho no que meu senso ético
me orienta. Minhas
ações se guiam pela missão original ampliada:
utilizando o que está ao meu alcance, no meu campo de poder, cuido em contribuir
para o bem-estar dos comerciários, seus dependentes. E das comunidades
populares onde vive grande parte das suas famílias.
Assisti à transformação da Globo Vídeo num departamento
da Som Livre. Ali a intenção era claramente diminuir custos, racionalizar negócios.
Ali, nas empresas Globo, a ideologia era a do lucro. Já o Sesc objetiva lucro
social. Não entendo quando agora se fala do Sesc como empresa, quando
ações priorizam a visibilidade mais que os conteúdos.
Luiz
Fernando Sarmento
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