segunda-feira, 22 de maio de 2017

rico - uma vida incomum como qualquer um 32





uma vida incomum como qualquer um 32

rico

O que desejo pra mim é o que desejo pra ti. Eu, aqui, agora no processo de aprender a estar contente. Rico por viver contente. Este o desejo.

Decisões Indecisas

Gostei da ideia. Decretos pessoais. Avalio melhor que ninguém meus próprios desejos e viabilidades. Determino a mim o que faço ou não. Começo pequeno. Hoje fico mais meia hora em casa pra escrever.

Cumpro a missão da instituição que me contrata – contribuir pro bem-estar dos menos favorecidos. Coincide com o que desejo, me alegro: inda me pagam pra trabalhar no que gosto. Tenho este olhar internalizado como sentimento. Faço o bem, não olho a quem, mesmo fora da hora. No banho, na cama, no trabalho, na rua, em qualquer lugar – quando relaxo – fica tudo um tanto mais claro, as soluções se desvendam. Estou tranquilo. Uma contabilidade cósmica indica justo equilíbrio.

Escolhas

Os custos de controles invadem orçamentos. Controle significa instrumento de domínio. Controles me enfraquecem. Mas quando eu gosto do que faço, faço o que gosto, pra que controle?

Imagino-me suprido, desde aquela explosão de afetos que me gerou. Papai e mamãe se olham e seus olhares são ternura e tesão. Calmamente se sentem, se tocam, têm o tempo como amigo. Mergulham no barato que vivem, se babam, se riem, arrepiam. O prazer toma conta, gozam. Passa um tempo... E lá venho eu, energias misturadas, embrião, parte de cada um.

Cresço cuidado, descubro o mundo, me cuido e partilho. Desejos e sentimentos vêm e vão. Aprendo transformá-los e a mim, como cachoeira em luz, ventos em ondas, trovões em matérias. Compreendo lá dentro, desfaço mal-entendidos, me supro cada buraco em cada momento. Não carrego vazios. Nada possuo além de mim mesmo. Sou inteiro. Componho o mundo, sou parte
e sou todo. O que percebo fora é o que reconheço porque sou. Não desejo possuir o que é parte de mim.

Sou também vegetal quando como. E sol quando me esquento e brilho. E o ar que respiro, a água que bebo. Internalizo e reflito o olhar, a emoção, o pensamento que recebo.

Produzo o que preciso, supro outros como sou e fui suprido. Pertenço ao mundo sem ser possuído. Decreto pessoal: sou livre.

Vago

Tudo me leva a crer que o mundo será o mesmo sem mim. Já meu mundo existe em mim, sou centro do meu universo. Só me resta viver.

É tão bom estudar sem ter que fazer provas, escrever despreocupado de notas. Mas como não ferir aquele a quem minha escrita porventura se refira?

Sentimentos de tristeza me assaltam se me toco do que fiz no impulso, como ontem, quando pressionei um jovem mendigo aidético: se é lá sua terra, se é lá que tem tratamento gratuito, volte pra lá. Constante no diálogo uma mistura de minha impotência e raiva, atrás do meu aparente afeto e desprendimento.

Saquei que associar alegria a castigo me dificulta viver o prazer. Agora todo dia enfrento medos e culpas. Quando venço, rio, me alegro, gozo. Outras vezes, quando transo, cultivo o prazer d’agora, evito o orgasmo. Permanece um quente no corpo, uma animação sutil, ausência de ânsia, pronto pra outras. Um tanto tantra. A meta, se existe, é o prazer durante, não o orgasmo ao final.

Por outro lado, esta sensação dejavu volta e meia me lembra do que antevi. Pressinto o que vem. Sinto uma ponta de tristeza quando com ironia sou chamado de poeta, filósofo, doidão. Sinais que estimulei defesas, não fui entendido. Sei que o sonhar, o imaginar – mesmo não conscientes – antecedem em mim cada realização. Meu mundo é feito a partir de meus sonhos, imaginações.

Sonhos podem ser leves. Se pesados, pesadelos. Como escolher sonhos leves? Se durmo de barriga cheia, é batata, pesadelos. Mas com a digestão já tranquila – e a cabeça no travesseiro, os olhos fechados –, se me volto pra agradáveis lembranças, imaginações prazerosas, batata!, leves sonhos. Toda noite – só quando consciente do que faço – escolho.

Perdi minha vida por educação. Verlaine? Algumas vezes leio só passando os olhos, outras tento entender tudo. Se atento demais, fico tenso, vou e volto, às vezes entendo, fica ou não fica. Tenho me permitido ler mesmo sem entender tudo. Sinto que mais que só algo permanece. Salteio páginas de Freud, me atenho ao que me toca. Passo os olhos em quase tudo que me cai em mãos.

Já não sei de quem vieram – se de um ou outro, ou desconhecido ou de mim ou de nenhum – estes entendimentos que já fazem parte de mim. Já folhetos, folheio. E se uma palavra, uma frase, uma ideia me desperta um sentimento, vem a curiosidade, leio. E quando me toca, cresço. Dos livros, também, adoro orelhas: às vezes fico só nelas.

Luiz Fernando Sarmento








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