uma vida incomum como qualquer um 32
rico
O que desejo pra mim
é o que desejo pra ti. Eu, aqui, agora no processo de aprender a estar
contente. Rico por viver contente. Este o desejo.
Decisões Indecisas
Gostei da ideia.
Decretos pessoais. Avalio melhor que ninguém meus próprios desejos e
viabilidades. Determino a mim o que faço ou não. Começo pequeno. Hoje fico
mais meia hora em casa pra escrever.
Cumpro a missão da
instituição que me contrata – contribuir pro bem-estar dos menos favorecidos. Coincide
com o que desejo, me alegro: inda me pagam pra trabalhar no que gosto. Tenho
este olhar internalizado como sentimento. Faço o bem, não olho a quem, mesmo
fora da hora. No banho, na cama, no trabalho, na rua, em qualquer lugar –
quando relaxo – fica tudo um tanto mais claro, as soluções se desvendam. Estou
tranquilo. Uma contabilidade cósmica indica justo equilíbrio.
Escolhas
Os custos de
controles invadem orçamentos. Controle significa instrumento de domínio.
Controles me enfraquecem. Mas quando eu gosto do que faço, faço o que gosto,
pra que controle?
Imagino-me suprido,
desde aquela explosão de afetos que me gerou. Papai e mamãe se olham e seus
olhares são ternura e tesão. Calmamente se sentem, se tocam, têm o tempo como
amigo. Mergulham no barato que vivem, se babam, se riem, arrepiam. O prazer
toma conta, gozam. Passa um tempo... E lá venho eu, energias misturadas,
embrião, parte de cada um.
Cresço cuidado,
descubro o mundo, me cuido e partilho. Desejos e sentimentos vêm e vão. Aprendo
transformá-los e a mim, como cachoeira em luz, ventos em ondas, trovões em
matérias. Compreendo lá dentro, desfaço mal-entendidos, me supro cada buraco em
cada momento. Não carrego vazios. Nada possuo além de mim mesmo. Sou inteiro.
Componho o mundo, sou parte
e sou todo. O que
percebo fora é o que reconheço porque sou. Não desejo possuir o que é parte de
mim.
Sou também vegetal
quando como. E sol quando me esquento e brilho. E o ar que respiro, a água que
bebo. Internalizo e reflito o olhar, a emoção, o pensamento que recebo.
Produzo o que
preciso, supro outros como sou e fui suprido. Pertenço ao mundo sem ser
possuído. Decreto pessoal: sou livre.
Vago
Tudo me leva a crer
que o mundo será o mesmo sem mim. Já meu mundo existe em mim, sou centro do meu
universo. Só me resta viver.
É tão bom estudar sem
ter que fazer provas, escrever despreocupado de notas. Mas como não ferir
aquele a quem minha escrita porventura se refira?
Sentimentos de tristeza
me assaltam se me toco do que fiz no impulso, como ontem, quando pressionei um
jovem mendigo aidético: se é lá sua terra, se é lá que tem tratamento
gratuito, volte pra lá. Constante no diálogo uma mistura de minha impotência
e raiva, atrás do meu aparente afeto e desprendimento.
Saquei que associar
alegria a castigo me dificulta viver o prazer. Agora todo dia enfrento medos e culpas.
Quando venço, rio, me alegro, gozo. Outras vezes, quando transo, cultivo o
prazer d’agora, evito o orgasmo. Permanece um quente no corpo, uma animação
sutil, ausência de ânsia, pronto pra outras. Um tanto tantra. A meta, se
existe, é o prazer durante, não o orgasmo ao final.
Por outro lado, esta
sensação dejavu volta e meia me lembra do que antevi. Pressinto o que
vem. Sinto uma ponta de tristeza quando com ironia sou chamado de poeta,
filósofo, doidão. Sinais que estimulei defesas, não fui entendido. Sei que o
sonhar, o imaginar – mesmo não conscientes – antecedem em mim cada realização.
Meu mundo é feito a partir de meus sonhos, imaginações.
Sonhos podem ser
leves. Se pesados, pesadelos. Como escolher sonhos leves? Se durmo de barriga
cheia, é batata, pesadelos. Mas com a digestão já tranquila – e a cabeça no travesseiro,
os olhos fechados –, se me volto pra agradáveis lembranças, imaginações
prazerosas, batata!, leves sonhos. Toda noite – só quando consciente do que
faço – escolho.
Perdi minha vida por
educação.
Verlaine? Algumas vezes leio só passando os olhos, outras tento entender tudo.
Se atento demais, fico tenso, vou e volto, às vezes entendo, fica ou não fica.
Tenho me permitido ler mesmo sem entender tudo. Sinto que mais que só algo
permanece. Salteio páginas de Freud, me atenho ao que me toca. Passo os olhos
em quase tudo que me cai em mãos.
Já não sei de quem
vieram – se de um ou outro, ou desconhecido ou de mim ou de nenhum – estes entendimentos
que já fazem parte de mim. Já folhetos, folheio. E se uma palavra, uma frase,
uma ideia me desperta um sentimento, vem a curiosidade, leio. E quando me toca,
cresço. Dos livros, também, adoro orelhas: às vezes fico só nelas.
Luiz
Fernando Sarmento
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