Livre pensar 04
O Trabalho como Prisão
Para tentar mudar a situação – ou para
manter a situação que lhe agrada - o poder reage com o controle e o castigo. A
imagem antiga é a do feitor com o chicote. A imagem atual é a do relógio de
ponto, do corte do salário, da suspensão, do controle de papel. Tanto controle
se torna necessário, que uma grande quantidade de mão-de-obra é destinada a
esta tarefa. O volume do trabalho de controlar pede utilização de tecnologia
avançada. Entram os computadores. São formados especialistas em controles.
Faz-se a ciência do controle. Isto, já há tempos, são fatos no Brasil, em boa
parte do mundo.
Como resolver então o problema do
aumento de produção, dito tão necessário? Em última instância, um dos fatores
decisivos para o aumento de produção é a mão-de-obra. Em mão-de-obra leia-se
gente.
A mão-de-obra deverá ter a sua
produtividade aumentada. Poderá também ter o volume de tempo de trabalho
aumentado.
Sigamos pelo aumento de produtividade:
isto com certeza aumentará a produção. Como fazer com que isto aconteça?
Tentando fazer com que a mão-de-obra participe por iniciativa própria? Tentando
controlar o seu trabalho? Enfim: mão-de-obra autônoma ou mão-de-obra mecânica?
Para a formação de autômatos, reforçar
o controle e o castigo é um caminho. Para a formação de autônomos, temos que
refletir.
Anotações
sobre a Autonomia
Nos anos 70 tentei me aproximar de
assuntos ligados à relação corpo-mente, no ser humano. Acredito, como outros
observadores, que, via de regra, o corpo é um espelho da história de cada um. A
barriga, o olhar, o andar, o falar, são sinais da história de cada um. A nuca
que dói pode ser sintoma do músculo que endureceu de tanta tensão provocada,
por exemplo, pelo medo. A boca rigidamente fechada pode refletir a raiva tão
longamente contida.
Acredito também, pela observação e
alteração de mim mesmo, que a situação pode ser mudada. Um lado gratificante é
a ampliação da percepção, o acesso a novos olhares. Uma boa e honesta conversa,
também consigo mesmo. Parece, porém, ser indispensável tentar entender
profundamente o ser humano, para apoiá-lo no seu novo parto. Para ajudá-lo a
aprender a andar, pensar, agir, ser autônomo.
Antes, ou paralelamente, cada um por
si tentar perceber o próprio corpo, suas emoções, sua própria mente, acredito
ser mais do que necessário a todo aquele que tenta perceber os outros, orientar
a outros, dirigir. Desenferrujar-se, aprender a lubrificar-se, tornar-se
autônomo: um sonho possível de realizar-se.
Luiz Fernando Sarmento
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