segunda-feira, 27 de março de 2017

transformações pessoais




Livre pensar 05

Transformações Pessoais


A revolução social não exclui a revolução individual: na verdade se complementam. Acredito que transformações pessoais sejam mais fáceis num lugar onde os problemas econômicos sejam resolvidos em função do bem-estar dos seres humanos. Em termos práticos, num lugar onde o que é produzido é distribuído justamente entre os que nele vivem.

Mesmo não sendo estas condições em que vivemos, são possíveis transformações pessoais revolucionantes. Um ponto de partida acredito ser tomar consciência de origens de fatos incômodos atuais. Em seguida, a recuperação da capacidade de sentir emoções. Acredito ainda que ou o prazer ou a raiva ou medo sejam a motivação principal de alterações de comportamento.

A sequência poderá ser: existir um incômodo e a percepção e busca das primeiras origens do incômodo pelo incomodado. Após esta tomada de consciência, recuperação da mobilidade física natural e, como consequência, recuperação da capacidade de sentir, se emocionar. Em decorrência dos sentimentos assim vivenciados, transformações pessoais difíceis de se prever.


A Busca das Origens dos Incômodos

Para isto, rever as verdades talvez seja um caminho. As verdades podem ser verificadas se permanecem verdades. As verdades atuais podem ser repensadas. Para ser verdade somente o verdadeiro, enquanto verdadeiro. Para deixar de ser verdade o preconceito, o moralismo, o basicamente falso.

Tudo que a igreja católica** nos ensinou não foi verdade durante tanto tempo?
O prazer a gerar o pecado?
O pecado a gerar o castigo?
A possibilidade de castigo a gerar o medo, a culpa?
A culpa, o medo a gerar submissão?

Sentir prazer? É pecado! Namoro, sonho, raiva, beijos? Pecados! Veniais ou mortais, do tamanho da culpa. Sentimentos e sensações suprimidos pelo medo, durante toda a vida. E cada vez mais insensível, mais homem, mais burro.

O correto, nos diziam, era a submissão. Submissão hoje, paraíso amanhã. Nada de aqui e agora. O passado com a “cultura”, o futuro com o “juízo final”. Com tanta pressão só nos restava, no presente, o medo.

E quantas verdades tão duramente implantadas em nós, na nossa infância e no correr da nossa vida, ainda permanecem inconscientemente como verdades? Mas se as repensarmos, formos às suas origens, com certeza os preconceitos deixarão de ser, as sensações de ridículo perderão suas fontes: as falsas verdades atuais.

Procurar e praticar os conceitos radicalmente humanos, ou adaptar-se aos preconceitos existentes? Dura luta. E esta luta tem uma importância maior do que a que atualmente lhe é dada. Atrás do preconceituoso, do moralista, está o ser mecânico.

Repensar as verdades estabelecidas, repensar como ato cotidiano, refletir em cada ação, isto é possibilidade de alterar o nosso mundo, ampliá-lo. E as verdades que construímos hoje? Para os nossos filhos, para os nossos companheiros de trabalho, vizinhos, amigos, nossos espectadores?

Para que sejam realmente verdades não há que separar o natural, fazer renascer o natural, ver a sua utilidade, dar-lhe um destino? Com certeza a revolução pessoal envelhecerá se as raízes não forem postas à mostra: exercitar o pensamento, refletir sobre os desejos expressos pelos que estão ao nosso redor. Não tentar moldar as crianças, jovens ou trabalhadores às nossas verdades atuais, tão duvidosas. É gastar muita energia para nada, é entortar o que cresce, é torná-los semelhantes a nós, no que temos de pior. Não é revolução: é manutenção da moral paralisadora. Da mesma moral que nos angustia, que nos coloca contra os nosso desejos mais naturais.




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Hinduísmo, budismo, islamismo, judaísmo, cristianismo. Católicos, protestantes, kardecistas, umbandistas, candomblecistas. Batistas, metodistas, pentecostais, quacres. Xintoístas, taoístas, confuncionistas. Não tenho experiências de outras instituições religiosas. Sei que minha vivência pessoal na cultura católica mais contribuiu para minhas limitações de que para meu desenvolvimento integral -  seja emocional, intelectual ou espiritual.

Isto naturalmente não exclui o bem estar que cada uma das religiões possa ter propiciado a outros.  Acredito que ninguém melhor que cada um para melhor saber de si.


Luiz Fernando Sarmento






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