Livre pensar 05
Transformações Pessoais
A revolução social não exclui a
revolução individual: na verdade se complementam. Acredito que transformações
pessoais sejam mais fáceis num lugar onde os problemas econômicos sejam
resolvidos em função do bem-estar dos seres humanos. Em termos práticos, num
lugar onde o que é produzido é distribuído justamente entre os que nele vivem.
Mesmo não sendo estas condições em que
vivemos, são possíveis transformações pessoais revolucionantes. Um ponto de
partida acredito ser tomar consciência de origens de fatos incômodos atuais. Em
seguida, a recuperação da capacidade de sentir emoções. Acredito ainda que ou o
prazer ou a raiva ou medo sejam a motivação principal de alterações de
comportamento.
A sequência poderá ser: existir um
incômodo e a percepção e busca das primeiras origens do incômodo pelo
incomodado. Após esta tomada de consciência, recuperação da mobilidade física
natural e, como consequência, recuperação da capacidade de sentir, se
emocionar. Em decorrência dos sentimentos assim vivenciados, transformações
pessoais difíceis de se prever.
A
Busca das Origens dos Incômodos
Para isto, rever as verdades talvez
seja um caminho. As verdades podem ser verificadas se permanecem verdades. As
verdades atuais podem ser repensadas. Para ser verdade somente o verdadeiro,
enquanto verdadeiro. Para deixar de ser verdade o preconceito, o moralismo, o
basicamente falso.
Tudo que a igreja católica** nos ensinou não foi verdade durante
tanto tempo?
O prazer a gerar o pecado?
O pecado a gerar o castigo?
A possibilidade de castigo a gerar o
medo, a culpa?
A culpa, o medo a gerar submissão?
Sentir prazer? É pecado! Namoro,
sonho, raiva, beijos? Pecados! Veniais ou mortais, do tamanho da culpa.
Sentimentos e sensações suprimidos pelo medo, durante toda a vida. E cada vez
mais insensível, mais homem, mais burro.
O correto, nos diziam, era a
submissão. Submissão hoje, paraíso
amanhã. Nada de aqui e agora. O passado com a “cultura”, o futuro com o
“juízo final”. Com tanta pressão só nos restava, no presente, o medo.
E quantas verdades tão duramente
implantadas em nós, na nossa infância e no correr da nossa vida, ainda
permanecem inconscientemente como verdades? Mas se as repensarmos, formos às
suas origens, com certeza os preconceitos deixarão de ser, as sensações de
ridículo perderão suas fontes: as falsas verdades atuais.
Procurar e praticar os conceitos
radicalmente humanos, ou adaptar-se aos preconceitos existentes? Dura luta. E
esta luta tem uma importância maior do que a que atualmente lhe é dada. Atrás
do preconceituoso, do moralista, está o ser mecânico.
Repensar as verdades estabelecidas,
repensar como ato cotidiano, refletir em cada ação, isto é possibilidade de
alterar o nosso mundo, ampliá-lo. E as verdades que construímos hoje? Para os
nossos filhos, para os nossos companheiros de trabalho, vizinhos, amigos,
nossos espectadores?
Para que sejam realmente verdades não
há que separar o natural, fazer renascer o natural, ver a sua utilidade,
dar-lhe um destino? Com certeza a revolução pessoal envelhecerá se as raízes
não forem postas à mostra: exercitar o pensamento, refletir sobre os desejos
expressos pelos que estão ao nosso redor. Não tentar moldar as crianças, jovens
ou trabalhadores às nossas verdades atuais, tão duvidosas. É gastar muita
energia para nada, é entortar o que cresce, é torná-los semelhantes a nós, no
que temos de pior. Não é revolução: é manutenção da moral paralisadora. Da mesma
moral que nos angustia, que nos coloca contra os nosso desejos mais naturais.
**
Hinduísmo, budismo,
islamismo, judaísmo, cristianismo. Católicos, protestantes, kardecistas,
umbandistas, candomblecistas. Batistas, metodistas, pentecostais, quacres. Xintoístas,
taoístas, confuncionistas. Não tenho experiências de outras instituições
religiosas. Sei que minha vivência pessoal na cultura católica mais contribuiu
para minhas limitações de que para meu desenvolvimento integral - seja emocional, intelectual ou espiritual.
Isto naturalmente não
exclui o bem estar que cada uma das religiões possa ter propiciado a
outros. Acredito que ninguém melhor que
cada um para melhor saber de si.
Luiz Fernando Sarmento
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